Começo esse texto fazendo uma pergunta simples: quantas vezes você viu uma campanha de prevenção ao HIV direcionada à população LGBTQIA+? Infelizmente, as ações que falam de HIV entre o público LGBTQIA+ ainda são poucas, mas este cenário precisa mudar, pois os números estão crescendo no país.
Segundo dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids, divulgado pelo Ministério da Saúde, dos 32,7 mil novos casos de HIV registrados em 2020, cerca de 52% concentram-se em homens homossexuais e bissexuais, contra 31% entre os heterossexuais. Os números revelam um cenário estarrecedor: a epidemia está concentrada e atinge uma população bastante vulnerável: gays, homens que fazem sexo com homens (HSH), mulheres trans e jovens negros.
Embora qualquer pessoa esteja suscetível à infecção, o avanço de HIV entre o público LGBTQIA+ vai além das questões fisiológicas e revela uma outra problemática. Essa população, que muitas vezes inicia a vida sexual sem receber orientação adequada e sem o apoio da família, é historicamente afetada por essa epidemia.
No início dos anos 80, quando receber o diagnóstico positivo era praticamente uma sentença de morte, a doença ainda era desconhecida. No entanto, isso não impediu que centenas de reportagens, marcadas pela ignorância e preconceito fossem veiculadas no país – e em todo o mundo.
“Peste gay”, “Doença dos 5H: homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers (prostitutas)” – esses eram alguns dos termos preconceituosos usados para se referir ao vírus da imunodeficiência humana.
É certo que, após mais de quatro décadas, muita coisa mudou: o avanço da medicina, atrelado às inovações tecnológicas, transformou e elevou a expectativa de vida dos soropositivos. Mas será que conseguimos aplacar o preconceito e o moralismo estabelecido contra esse grupo?
Como reduzir casos de HIV entre o público LGBTQIA+ e populações vulneráveis?
Sabemos que para mudar esse cenário há um longo – e árduo – caminho a percorrer. Diante disso, é importante que as autoridades e os órgãos competentes se atentem a alguns fatos.
Sendo assim, para reduzirmos os casos de HIV entre o público LGBTQIA+ é preciso, antes de tudo, que exista uma manutenção preventiva e efetiva do Sistema Único de Saúde (SUS). Evitar o sucateamento desse sistema, que oferece tratamento gratuito e é considerado um exemplo em todo o mundo, é fundamental para o combate à doença.
Além disso, ampliar as campanhas de prevenção, que atualmente são incapazes de atingir às populações mais vulneráveis, também é essencial. E de que forma isso é possível?
Encontrar a resposta exata para esse questionamento não é simples ou fácil, mas é preciso romper com o moralismo que rodeia a doença. Entender que o HIV não é uma questão de escolhas – ou hábitos – sexuais promíscuos, em pleno século XXI, é urgente. A epidemia é um problema de saúde pública, que está altamente ligada à desigualdade social presente no nosso país.
Outra questão, pouco debatida e desconhecida por uma ampla parcela da população, diz respeito às outras estratégias de prevenção. Sabemos que o uso do preservativo é fundamental para evitar as ISTs, além das gestações indesejadas, mas a combinação das profilaxias pré e pós-exposição, PrEP e PEP, também são eficazes e devem ser usadas.
Alta prevalência de HIV entre o público LGBTQIA+ é um problema social
Analisar essa questão de forma rasa e inconsequente pode contribuir com a propagação de informações preconceituosas e errôneas acerca da doença. A alta prevalência de HIV entre o público LGBTQIA+ é o resultado de fenômenos sociais – como a exclusão e a discriminação – a que esses grupos são submetidos.
É preciso implantar uma abordagem humanizada e individualizada para que possamos, enfim, conter o combustível que nutre e perpetua a epidemia de HIV entre o público LGBTQIA+: a homofobia.
E não se esqueça: receber o diagnóstico positivo da doença não é uma sentença de morte. Existe tratamento gratuito e disponível no SUS. Tem dúvidas sobre HIV ou outra doença infecciosa? Entre em contato comigo!