Desigualdade e AIDS: como essa relação impacta o progresso contra a doença?

No próximo 1º de dezembro, vamos celebrar mais um Dia Mundial de Combate à AIDS. A cada ano, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) adota um tema para a campanha de conscientização e, em 2022, será “Equidade Já”, justamente porque desigualdade e AIDS caminham juntas e são responsáveis por colocar inúmeras vidas em risco.

De acordo com a UNAIDS, 38,4 milhões de pessoas no mundo viviam com HIV em 2021, sendo que 650 mil morreram por doenças relacionadas à condição. Apesar de muitos avanços científicos e sociais nas últimas décadas, inúmeros desafios prevalecem e novos surgem, como foi o caso da pandemia de Covid-19. Em julho de 2021 foi publicado o Relatório Global do UNAIDS “Enfrentando Desigualdades – Aprendizados dos 40 anos de AIDS para respostas às pandemias”, que apontou evidências de que aqueles que vivem com HIV são mais vulneráveis à contaminação pelo coronavírus e suas complicações.

Lockdowns e diversas outras medidas restritivas para combater a Covid-19 interromperam gravemente as testagens para HIV, contribuindo para quedas importantes nos diagnósticos e encaminhamentos para tratamentos em muitos países, sobretudo os mais pobres.

Populações-chaves: como a desigualdade e AIDS afetam essas pessoas

Não é difícil compreender o porquê da abordagem sobre desigualdade e AIDS ser um convite à ação. Ainda no relatório, a UNAIDS apontou que, em 2020, 1,5 milhão de novas infecções por HIV ocorreu no mundo predominantemente entre as populações-chaves, definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) para indivíduos em populações que se encontram em maior risco de contrair o vírus HIV em todos os países e regiões, incluindo:

  • Homens que fazem sexo com homens; 
  • Pessoas que usam drogas injetáveis; 
  • Pessoas em presídios e outros ambientes fechados; 
  • Trabalhadoras(es) do sexo e seus clientes; 
  • Pessoas trans.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV. Deste número, 89% receberam o diagnóstico, 77% fazem o tratamento disponível atualmente com antirretroviral e 94% dos que realizam o tratamento já não transmitem o vírus por terem atingido a carga viral indetectável.

AIDS no organismo e seu tratamento

A AIDS é uma doença causada pela infecção do vírus HIV (Acquired Immunodeficiency Syndrome) que, em português, significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. O vírus ataca o sistema imunológico e deixa o organismo sem defesa contra outros agentes infecciosos. 

Apesar de ainda não ter cura, quanto antes tiver o diagnóstico da contaminação, melhor para o paciente –  já que isso aumenta muito sua expectativa e qualidade de vida. A orientação das equipes de saúde é que, caso uma pessoa tenha passado por uma situação de risco, como ter feito sexo desprotegido ou compartilhado seringas, faça o teste anti-HIV.

O tratamento de indivíduos portadores do vírus HIV é feito com medicamentos antirretrovirais, que ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imune. Eu já falei aqui sobre os desafios da adesão ao tratamento e os principais efeitos colaterais dessas medicações, que podem incluir agitação, diarreia, náuseas, insônia, vômitos e manchas vermelhas pelo corpo, também conhecidas como “rash cutâneo”.

Avanços da Ciência

Recentemente, um estudo dinamarquês realizado por uma equipe do Hospital Universitário de Aarhus em colaboração com cientistas do Reino Unido, EUA, Espanha e Canadá, e publicado na revista Nature, mostrou que anticorpos monoclonais junto com os antirretrovirais podem aumentar a capacidade do próprio organismo de suprimir o vírus, o que é considerado, pelos pesquisadores, como um passo muito importante. 

Hoje, quando um indivíduo interrompe o tratamento com antirretroviral, a quantidade de vírus no sangue aumenta em pouco tempo para o mesmo nível de antes, independente do tempo que o tratamento é realizado.

A Aids não tem cura, mas tem controle. Aderir ao tratamento, junto com uma rotina de hábitos saudáveis, incluindo boa alimentação, prática de atividade física, bem como manter uma rede de apoio, inclusive com grupos e rodas de conversa com outras pessoas na mesma condição, podem contribuir positivamente nessa jornada. Em caso de dúvida, entre em contato comigo!