Complicações do herpes-zóster: de problemas de coagulação do sangue a doença rara no cérebro

A pandemia da Covid-19 trouxe inúmeros desafios para o Brasil e o mundo, e ainda fez aumentar algumas doenças que pareciam mais controladas – este é o caso do herpes-zóster, conhecido como cobreiro e causado pelo vírus varicela-zóster, o mesmo que causa a varicela ou catapora. Essa relação foi estudada por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Minas Gerais, que identificaram, a partir de dados do Ministério da Saúde, um aumento em torno de 35%, considerando-se todas as regiões do país. Neste texto vou abordar as complicações do herpes-zóster e o porquê ele ganhou destaque durante a pandemia.

Embora ainda não seja possível determinar quais são os aspectos envolvidos nessa relação entre as duas doenças, o herpes-zóster se aproveita da baixa imunidade do organismo. O alto nível de estresse e ansiedade nas pessoas durante os momentos mais críticos da pandemia pode ter sido um dos fatores, pois isso é capaz de “reativar” o vírus no corpo. 

Vou detalhar: após o primeiro encontro do vírus com o organismo humano (geralmente na infância, com a catapora), ele fica “oculto” no sistema nervoso – mais precisamente nos gânglios dos nervos espinhais e cranianos. Na maioria dos casos, permanece adormecido pelo resto da vida, mas não é assim para todos. Em pessoas com algum comprometimento imunológico importante, como os portadores de doenças crônicas (hipertensão e diabetes, por exemplo), câncer, AIDS e transplantados, ele pode retornar. Geralmente é considerada uma doença benigna, mas se não for tratada rapidamente e da forma adequada, as complicações do herpes-zóster podem ser graves.

Sintomas e complicações do herpes-zóster

Os sintomas clássicos são lesões na pele de coloração vermelha acompanhadas de ardor e coceira, além de febre, mal-estar e dor de cabeça. Já as complicações do herpes-zóster podem ser:

  • Encefalite: infecção grave no sistema nervoso central, é uma complicação neurológica séria, podendo ser fatal. Os sintomas incluem alterações do nível de consciência, febre alta, dor de cabeça e crises convulsivas. Podem acontecer danos neurológicos permanentes naqueles pacientes que sobrevivem à infecção grave.

 

  • Hepatite: infecção que atinge o fígado podendo ser leve, moderada ou grave. Pode ser silenciosa em relação aos sintomas ou apresentar sinais como cansaço, tontura, náuseas e vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados.

 

  • Meningite: inflamação das meninges, as membranas finas que recobrem o cérebro e a medula espinhal com o objetivo de protegê-las. A meningite causada pelo herpes-zóster é viral e, entre os sintomas, estão febre, rigidez na nuca, dor de cabeça, vômitos, perda de apetite, até sintomas mais graves como perda de consciência e convulsões.

 

  • Mielite transversa: condição rara, é uma doença que afeta a medula espinhal e tem como sintomas fraqueza, disfunção intestinal e vesical, além de alterações sensitivas, inclinação da cabeça para a frente, dificuldade para engolir, entre outros.

 

  • Pancreatite: inflamação do pâncreas que pode causar aumento do seu tamanho, podendo causar dor intensa e repentina, além de diarreia, fezes com odor forte, febre e suor. Pode ser fatal se não tratada adequadamente.

 

  • Síndrome de Ramsay Hunt: Também chamada de herpes-zóster do ouvido, a doença ganhou destaque na mídia em junho deste ano após o cantor Justin Bieber publicar em suas redes sociais um vídeo com metade do rosto paralisado, informando aos fãs o diagnóstico síndrome de Ramsay Hunt. Além dessa paralisia, a doença pode causar dor de ouvido intensa, perda de audição e lesões na pele – especialmente na orelha.

Também podem ocorrer varicela disseminada ou varicela hemorrágica em pessoas com alto comprometimento imunológico e neuralgia pós-herpética (NPH), caracterizada por dor persistente pelo período de 4 a 6 semanas após a erupção cutânea, por resistência ao tratamento.

Prevenção do herpes-zóster

A melhor forma de controlar a doença e, consequentemente, de prevenir as complicações do herpes-zóster é, sem dúvida, a vacina. Em julho deste ano chegou ao Brasil um novo imunizante: uma vacina com vírus inativado. Até então só havia disponível um tipo de vacina, com vírus vivos atenuados. No entanto, ambas estão disponíveis somente na rede particular, e é importante estar atento às recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) em relação à dose, periodicidade, público-alvo etc.

Já a vacina contra a varicela está disponível na rede pública por meio do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, sendo a primeira dose para crianças de 15 meses incluída na vacina tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) e a segunda para crianças de 4 até 6 anos de idade.

Conforme abordei no decorrer do texto, o vírus não deve ser menosprezado. Caso suspeite da doença, procure um infectologista para dar início ao tratamento o quanto antes e, com isso, evitar possíveis complicações. Em caso de dúvida, entre em contato comigo!