Casos de HIV na indústria pornográfica reforçam importância do uso de preservativos

A notícia de três novos casos de HIV na indústria pornográfica reacendeu o debate sobre a importância do uso de preservativos no País! A reportagem, publicada no jornal Folha de S.Paulo, revelou a descoberta de casos positivos de HIV envolvendo atrizes pornô em São Paulo, que é considerado o principal polo erótico do Brasil.

Além de paralisar a produção dos filmes, os casos de HIV na indústria pornográfica deixaram profissionais apavorados e obrigaram diversas produtoras a revisar a prática do sexo sem proteção que, embora seja assustadora, infelizmente é bastante comum nas obras nacionais. 

Mas assim como uma ampla parcela da população, produtores e roteiristas da indústria de filmes eróticos têm centenas de justificativas para a não utilização de preservativos durante as gravações. Segundo o CEO de uma das produtoras ouvidas pela reportagem, essa prática não ocorre apenas no Brasil, mas em todo o mundo – afinal, ninguém “compra lá fora se tiver camisinha” e, aparentemente, o sexo parece mais atrativo sem a devida proteção. 

E a vida parece mesmo imitar a arte – ou pelo menos é o que apontam os dados da  Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que apenas 22,8% dos brasileiros, com idade acima dos 18 anos, usam preservativo em todas as relações sexuais.

As estatísticas preocupam, e os casos de HIV na indústria pornográfica evidenciam um problema que não se limita somente a esse segmento. 

Afinal, por que a aversão ao preservativo é tão comum no Brasil? 

A resposta para essa pergunta não é simples e envolve uma série de fatores. Entre os mais jovens, a crença de que as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) são facilmente remediáveis contribui para a baixa adesão do método.

Já entre os mais velhos, o índice é ainda mais baixo: de acordo com a pesquisa do IBGE que citei anteriormente, apenas 17,9% das pessoas, com idade entre 40 e 59 anos, fazem sexo com proteção. Neste caso, a explicação para os números pode estar relacionada à ausência de informações sobre o uso do método durante a juventude, que contribuiu para a dificuldade de fazer da proteção um hábito constante na vida adulta. 

Outra questão que colabora com esse cenário é a popularização da pílula anticoncepcional, que desde 1960 permite que mulheres tenham relações sexuais por prazer – e que antes era um privilégio apenas dos homens – sem se preocupar com uma gestação indesejada. Para muitas pessoas, evitar uma gravidez é mais importante do que prevenir uma DST, embora a maioria saiba dos riscos e complicações que uma infecção sexual pode causar à saúde. 

O consumo de filmes eróticos também afeta as práticas sexuais e pode levar a comportamentos de risco. Existem evidências de que o vício em pornografia provoca transtornos em ambos os sexos, como a ninfomania (transtorno hipersexual feminino) e a satiríase (transtorno hipersexual masculino), caracterizados pelo desejo sexual compulsivo. 

Casos de HIV na indústria pornográfica trazem à tona condutas inadequadas 

Os casos recentes de HIV na indústria pornográfica também jogaram luz sobre uma série de práticas equivocadas, como o uso frequente dos retrovirais, antes das gravações, para reduzir os riscos de contaminação.

A indicação para a PEP (ou Profilaxia Pós-Exposição de Risco) é feita quando há chances de infecção pós-relação, como nos casos de estupro e exposição genital acidental. No entanto, profissionais do mercado cinematográfico erótico estão utilizando esse método de forma inadequada. 

É importante ressaltar que o uso do PrEP ou do PEP para evitar contaminação pelo HIV é eficaz, contanto que seja feito de forma correta. Isto é: para total eficácia, os métodos precisam ser complementados com o uso de preservativos, o que não ocorre nas produções eróticas. 

Quando o assunto é prevenção, não há discussão: o uso do preservativo é essencial para evitar a contaminação das DSTs e as gestações indesejadas. Os casos recentes de HIV na indústria pornográfica reforçam a importância da utilização desse método, apesar dos avanços recentes na medicina e a evolução dos tratamentos.

Lembre-se: o uso da camisinha não diminui o prazer e, tampouco, deve ser motivo de constrangimento entre os casais. O verdadeiro embaraço está na aversão ao uso desse método, cuja taxa de eficácia ultrapassa a marca dos 90% na prevenção de ISTs e gravidez. Não há contraindicação, é acessível para todos e deve ser utilizada durante todas as relações sexuais, sejam elas orais, genitais ou anais. 

Portanto, previna-se! Em caso de dúvida, entre em contato comigo ou compareça à unidade de saúde mais próxima de sua residência!